Santos
É tempo de Santos Populares. Como fomos uma semana de férias, perdi pela primeira vez em anos o Santo António em Lisboa.
Na véspera de Santo António a cidade enlouquece de modo muito singular (ou melhor, plural, dada a maré de gente que invade a cidade) e só é comparável ao Rio de Janeiro em pleno Carnaval (ok, salvaguardando as devidas proporções).
Com tanta Sardinha, Caldo Verde, Febra, Manjerico, Sangria, Cerveja (e, sim, já capirinha+roska) a última coisa em que toda a gente pensa é no coitado do Santo, que diga-se em abono da verdade, nem sequer é o padroeiro da cidade (esse lugar é para o S. Vicente e seus corvos).
Já agora, não faria mal a ninguém conhecer a história e importância do Santo. Mesmo um agnóstico como eu, passei a vida toda a cuscar com muita curiosidade as vidas e escritos dos místicos. Não me fez mal nenhum, pelo contrário. E faz-me alguma impressão que tanto "católico praticante" vá ao domingo fazer social para a igreja da freguesia e bater com a mão no peito, quando não percebe NADA de catecismo nem nunca teve qualquer vontade de se cultivar nessa área ou curiosidade sobre as personagens em questão... Estranho, não é? (Ou talvez não).
Muito antes do nascimento de Jesus Cristo, já o povo celebrava nesta altura do ano a chegada do Solstício de Verão, saudavam a proximidade das colheitas, faziam sacrifícios em prol da fertilidade e acreditavam que os festejos afastavam as doenças e a seca. Pensa-se que as tão populares fogueiras têm origem na celebração da deusa romana Vesta, guardiã da cidade, do lar e do fogo. A deusa Vesta é a versão romana da deusa grega Héstia - deusa dos laços familiares, simbolizada pelo fogo da lareira.
Como mais tarde a Igreja Católica não conseguiu pôr fim a estas festas pagãs, transformou-as em católicas, atribuindo ao dia 13, 24 e 29 respectivamente, os Santos por todos conhecidos: Santo António, São João e São Pedro, que se distinguem pelo percurso das suas vidas.
"À propos", há neste momento uma oportunidade rara de alguma reflexão ascética bastante acessivel em versão embaladinha e pronta a servir em não mais de duas horas: Dois filmes sobre santos:
Santo António
António, Guerreiro de Deus
Antonio, Guerriero di Dio
e Santa Teresa de Ávila
Teresa, O Corpo de Cristo.
Há uns 20 anos a TVE produziu TERESA DE JESUS, uma EXCELENTE série de TV, que foi a minha primeira aproximação à figura de Teresa d'Ávila. ,Eu tinha acabado de entrar na Escola de Cinema quando a série passou na RTP e na altura surpreendeu-me muitissimo pela sua excelente fotografia, cheia de castanhos e dourados, acentuando o aspecto medieval daquela Espanha, mas sobretudo pela sua espantosa modernidade, sem concessões delicodoces e popularuchas de mitificação da Santa. A Realizadora, Josefina Molina escolheu antes uma abordagem pelo lado complexo da personagem, explorando a sua condição humana e o extase nas suas epifãneas de uma forma que me conquistou verdadeiramente e que, até aí não vira em cinema (certamente não no Cristo de Zeffirelli) só alguns anos depois vi Scorcese fazer algo assim também com a "Ultima Tentação de Cristo".
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